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domingo, 11 de dezembro de 2011

Seria necessário maior espaço para expormos convenientemente o tema proposto, pela sua abrangência, profundidade e influência. Mas desejamos fazer algumas observações importantes para, dessa forma, estimular os leitores a ler e estudar João Calvino.


João Calvino é uma figura não só controversa, mas ainda muito desconhecida e mal compreendida por muitos. Nesta data importante para os calvinistas de todo o mundo, não é exagero afirmar que a história da teologia pode ser dividida em pré e pós João Calvino, devido ao seu legado teológico. A abrangência e influência de seu pensamento fazem dele um dos principais teólogos de todos os tempos da Igreja Cristã.
 
Foi a mente brilhante de João Calvino que cristalizou a Reforma Protestante. O calvinismo não foi um movimento teológico passageiro. É impossível fazer teologia de modo responsável sem interagir com o legado de Calvino. O calvinismo é um modo completo de ver, entender e existir; é um sistema que envolve todos os aspectos da vida humana.
 
Embora a concepção popular do pensamento teológico de Calvino seja a de um sistema rigorosamente lógico, centrado sobre a doutrina da predestinação, isto não é verdade. Falar de Calvino como um teólogo sistematizador implica em um grau de afinidade com o escolasticismo medieval que contradiz suas atitudes conhecidas. Também sugere um deslocamento significativo entre Calvino e sua cultura, que não percebeu que nenhuma razão particular para produzir obras de “teologia sistemática” – um gênero literário que, de qualquer modo, estava firmemente identificado com a preservação do tão desprezado escolasticismo.

 
A obra teológica de Calvino
 
A obra magna da exposição do pensamento teológico de João Calvino é conhecida pelo nome de As Institutas. Em importância, influência e qualidade, essa obra não possui rival na história da teologia. Ela poderia ser comparada, talvez, à Cidade de Deus de Agostinho, ou a Summa de Tomás de Aquino, possivelmente à Dogmática Eclesiástica de Karl Barth.
 
 Entretanto, a todas essas a obra-prima de Calvino supera. As Institutas são um livro onde encontramos não apenas o melhor compêndio de teologia cristã, segundo alguns teólogos, mas também a base de uma cosmovisão cristã, cuja abrangência e consistência são sem igual na história da igreja. Ele ainda produziu comentários sobre quase todos os livros do Novo Testamento (exceto 2 e 3 João e Apocalipse) e, no Antigo, escreveu sobre o Pentateuco, Josué, Salmos e sobre os profetas maiores e menores (Isaías e Malaquias). A série Corpus Reformatorum contém 872 sermões de Calvino.
 
A biblioteca de Genebra possui 2035 desses sermões em manuscrito. Ele também publicou folhetos e tratados com temas apologéticos (contra católicos e anabatistas) e de assuntos gerais sobre a Reforma da Igreja. Um dos mais conhecidos é o tratado sobre a Ceia do Senhor (escrito quando estava em Estrasburgo), em que combate os pontos de vista do romanismo e do luteranismo e dá o seu próprio ponto de vista sobre a ordenança.
 
 Através de cartas se comunicou com outros reformadores, soberanos, igrejas perseguidas e protestantes encarcerados, pastores, colportores, e outros. Uma das mais famosas de suas cartas, além da que prefacia a sua obra magna, dirigida ao rei Francisco I, é sua resposta ao cardeal Sadoleto. Este ícone da teologia cristã ainda produziu escritos litúrgicos e catequéticos. Logo depois da 1ª edição das Institutas, Calvino escreveu o seu primeiro “catecismo” a que deu o nome de Instrução de Fé, em 1537, que verteu para o francês em 1538. Em Genebra, escreveu também com outro catecismo, ao qual deu o formato de catecismo mesmo, hoje conhecido como o Catecismo de Genebra. Ali escreveu também uma Confissão de Fé, livro de ordem litúrgica e administração eclesiástica (disciplina), saltério, etc.
 
Pelo volume de seus escritos se percebe a profundidade de seu pensamento. É certo que as Institutas, obra publicada em sua versão final em 1559, têm sido frequentemente comparadas às outras obras, com suas 512 questões, 2.669 artigos e mais de 10.000 objeções e réplicas - em sua abrangência e influência. Mas isto é confundir puro volume literário e influência histórica com afinidade teológica.
 
Como um estudo da evolução das Institutas indica, Calvino originalmente concebeu a obra em termos modestos, sem qualquer pretensão à abrangência metodológica. A reordenação do material, entre as edições no período de 1536 a 1559, reflete considerações mais pedagógicas que metodológicas. A preocupação de Calvino é mais humanista que escolástica – ajudar seus leitores, ao invés de impor-lhes um método sobre o pensamento.
 
 As Institutas de 1559 combinam as virtudes cardeais da educação humanista – clareza e compreensividade – permitindo a seus leitores acesso a uma apresentação clara e completa dos principais pontos da fé cristã, que Calvino desejava que fossem entendidos. Em nenhum ponto há qualquer evidência que sugira um princípio condutor, axioma ou doutrina – exceto a clareza de apresentação – que governa a forma ou a substância da obra.

 
A amplitude do pensamento de Calvino
 
Não há uma doutrina central no pensamento de Calvino. Podem-se localizar certos temas nuclearmente importantes, certas metáforas fundamentais, mas a noção de uma doutrina ou um axioma central que o controle não pode ser sustentada. Não há um “núcleo”, nem “princípio básico” ou “premissa central”, nenhuma “essência” do pensamento teológico de Calvino. Todavia, não se pode negar que um dos pilares do pensamento de Calvino é o pressuposto da iniciativa e soberania divinas. Todas as formulações teológicas de Calvino emergem deste a priori.
 
Diferentemente do que se pensa, não é a doutrina da predestinação que prepondera e governa a soteriologia de Calvino, mas sim o grande mistério da união mística com Cristo da qual, aliás, o Novo Testamento fala com metáforas de profunda intimidade, e que tem sido apontado com um dos temas centrais em Calvino, talvez até a viga mestra de todo o seu edifício teológico.
 
Ele construiu e deixou este grande legado à igreja, especialmente pela sua apreciação aos textos originais. João Calvino foi um exegeta notável, levando para si o título de exegeta da Reforma, tornando-se o mais importante modelo da aplicação do conteúdo histórico-gramatical, criando um novo modelo hermenêutico para a história da interpretação cristã.
 
A força do pensamento de Calvino não está na sua capacidade de expressar de modo claro, correto e profundo o verdadeiro sentido das afirmações bíblicas. O pensamento teológico do pastor curador de almas foi expresso com sua visão de teólogo e seu saber de jurista, focada em honrar a Deus acima de todas as coisas. Para ele as pessoas devem buscar a perfeição no cotidiano da vida, honrando a Deus pelas contínuas conquistas advindas do trabalho, pois a sua teologia é aplicada à vida como um todo e para servir à sociedade em geral.
 
Referências bibliográficas
O Pensamento de João Calvino – Editora Mackenzie
A vida de João Calvino – Editora Cultura Cristã – Alister McGrath
Calvino, Genebra e a Reforma – Editora Cultura Cristã – Ronald Wallace.

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